Silvio Santos usou Blocos de Concreto

OITO ANOS NO AR


Sede do SBT revela a versatilidade e durabilidade dos blocos de concreto

Em 1995, o empresário Silvio Santos decidiu construir uma "Cidade de Televisão" para o SBT - Sistema Brasileiro de Televisão. Um local que permitisse produzir, gravar, editar e gerar o sinal da emissora para toda a rede nacional em um único prédio. Surgiu assim o Complexo Anhangüera, a nova sede da rede e que representou um grande passo para a concretização do Projeto SBT Ano 2000.
Construída no quilômetro 19 da Rodovia Anhangüera, a planta tem infra-estrutura suficiente para atender todas as necessidades da 2a maior rede de televisão do País. Ali estão reunidas as cinco unidades do SBT, antes descentralizadas e denominadas Vila Guilherme, Teatro Silvio Santos, Sumaré, Camarés e a própria unidade Anhangüera que já atendia ao setor administrativo do grupo Silvio Santos.
Ao todo são cerca de 62 mil m2 de área construída em um terreno de 231 mil m2. Tem restaurante, lanchonete, agência bancária, loja de conveniência, salão de beleza, ambulatório médico e odontológico, área de pouso e decolagem de helicópteros, estacionamento e transporte interno, o que garante um atendimento eficiente a 2.500 pessoas que por ali circulam diariamente. A princípio, o local seria usado como depósito de uma rede de comércio varejista, mas com base em minuciosos estudos de engenharia, o prédio foi transformado para atender à nova função. "A centralização das operações foi favorável tanto do ponto de vista logístico como econômico, pois simplificou as operações e permitiu a construção de estúdios de excelente qualidade", diz Juvenal João Diniz, gerente de administração do CDT (Centro de Televisão).
O conjunto foi concebido pelo arquiteto Joel Abrão, sob orientação técnica de Alfonso Aurin e com a participação intensiva da construtora Zappi e dos projetistas de instalações, de maneira a compatibilizar os vários projetos, minimizar erros e interferências. "Ao todo são oito estúdios de gravação, cada qual para determinado produto da emissora. Logo, tínhamos de evitar, por exemplo, paredes coladas devido a interferências acústicas de um estúdio no outro", explica o arquiteto Abrão.
Como o problema central se resumia ao prazo da obra e necessidade de vedação acústica, o edifício foi executado com estrutura pré-fabricada de concreto e fechado com blocos de concreto.
"Uma das grandes vantagens do sistema é que a obra caminha independente das condições climáticas", destaca o engenheiro Manoel Ferreira de Souza, da Construtora Zappi. "O uso de blocos de concreto se apresentou não só como melhor opção no que se refere à proteção termoacústica, como também para a estabilidade mecânica", avalia Souza.

Acústica e fogo

Segundo o engenheiro Eduardo Velucci, diretor operacional da Sisan Empreendimentos Imobiliários, empresa do Grupo Silvio Santos, os estúdios foram concebidos como "unidades autônomas" (inclusive porque podem abrigar produções independentes) e que, devido à carga térmica da iluminação e dos demais equipamentos a serem utilizados, o bloco de concreto foi a solução mais viável. "O material não é combustível e, em associação com as portas corta-fogo especiais empregadas, pode garantir a não propagação de chamas em caso de incêndio, com a vantagem adicional de reduzir o custo do seguro", diz.

A equipe destaca ainda que duas questões distintas referentes à parte acústica tiveram que ser resolvidas dentro do conjunto. Em primeiro lugar era preciso impedir a passagem dos sons graves de um estúdio para o outro e a segunda evitar a reverberação. Neste caso, o bloco de concreto facilita a vedação de ruídos agudos, mas não dos graves, a não ser que exista massa entre os blocos. "A forma encontrada foi construir duas paredes de alvenaria de blocos de concreto com 14 cm de espessura, preenchidas com uma massa composta de pedrisco e cimento. A solução impediu que as baixas freqüências interferissem nos estúdios", comenta Eduardo Padilha, produtor técnico do SBT. Segundo ele, na parte interna foram construídos painéis de estrutura metálica revestidos com pó de lã de rocha, a fim de evitar a reverberação dos sons.

Modulação

O projeto de alvenaria do complexo foi concebido de forma racionalizada, segundo uma modulação que proporcionou perfeito encaixe entre os blocos e encontro nas bordas, evitando-se com isso o recorte das peças. Na fábrica de cenários o projeto adotou a alvenaria sem revestimento. De acordo com o arquiteto Joel Abrão, a intenção era aplicar um material que já resultasse em bom acabamento, permitisse economia e máxima racionalidade e rapidez na execução. "Internamente, as paredes receberam apenas uma pintura acrílica na cor branca. Na parte externa, foi aplicada uma argamassa de revestimento texturizada", explica Abrão. "Tínhamos de entregar um total de 12.800 m2 em um prazo máximo de 90 dias. Quer dizer, era inviável que o espaço fosse executado em alvenaria, depois passasse pela etapa de revestimento e pintura, tendo em vista que tais procedimentos demandam maior tempo de secagem", lembra o engenheiro Manoel Ferreira de Souza.
Para o gerente do CDT, Juvenal João Diniz, o bloco não oferece tanta flexibilidade para modificações nas áreas internas. Por isso, o projeto foi muito bem discutido antes de ser colocado em prática. "As transformações acontecem apenas nos cenários e não na parte estrutural. Por outro lado, se tais mudanças forem necessárias, a exatidão e padronização das peças facilita possíveis substituições, tanto no que se refere à rápida execução como orçamento final feito pelo CDT", avalia Diniz.

Infra-estrutura

Com investimento total de 120 milhões de dólares, o SBT dotou sua nova sede de toda infra-estrutura necessária para garantir a melhor qualidade de produção, além de instalar equipamentos de ponta. Ao todo, são oito estúdios com cerca de 700 m2, compostos por tecnologia de última geração, inclusive com palcos móveis. O pé-direito de 11 m permitiu a destinação de 2,5 m para a instalação das tubulações de ar condicionado e cabeamentos, deixando livres 9 m para os cenários.
O Complexo Anhanguera opera com água proveniente de cinco poços artesianos e conta com uma estação de tratamento de esgotos própria, localizada em um prédio também construído com blocos de concreto. A energia elétrica é fornecida por cinco subestações e quatro geradores, acionados no caso de queda de energia. O SAP (Sistema de Automação Predial) controla ponto-a-ponto toda a edificação, inclusive com especificação da umidade e temperatura adequadas a cada atividade e área de trabalho.
Ao todo, a concepção do projeto e execução da obra levou menos de dois anos.

Vista do conjunto: estúdios, 
área de escritórios e oficinas

Acesso aos estúdios: cuidados na
isolação acústica

Oficina de cenografia: alvenaria para vedar estrutura de concreto

Tratamento da alvenaria reduziu a transmissão de ruídos para o exterior das oficinas

Arquiteto Joel Abrão

Área de figurinos

FICHA TÉCNICA

Obra:
CDT - Centro de Televisão do SBT

Local:
Via Anhangüera, São Paulo - SP

Terreno:
231 mil m²

Área construída:
62 mil m²

Conclusão da obra:
2003

Ano do projeto:
1994

Execução da obra:
1995 - 2000

Arquitetura:
Joel Abrão

Construção:
Construtora Zappi