Em São Paulo tudo se constroi com Blocos de Concreto
Empresa paulista mostra caminhos para o trabalho com a alvenaria estrutural
A racionalização dos sistemas construtivos sempre foi uma preocupação dos engenheiros Alexandre Luís de Oliveira e Renato Vieira da Silva, sócios da DMO Engenharia e Empreendimentos. Depois de trabalhar nos primeiros anos com infra-estrutura e pavimentação, em 1995 a empresa teve a oportunidade de entrar na área de habitação de interesse social, e experimentar o sistema de alvenaria estrutural com blocos de concreto. "Com um grau de industrialização muito superior aos métodos convencionais, o sistema se mostrou capaz de proporcionar qualidade, produtividade e a otimização de recursos que desejávamos. O sistema propicia o cumprimento rigoroso dos cronogramas e permite trabalhar em canteiro racional, limpo e seguro", afirma Alexandre de Oliveira.
A oportunidade para entrar na área de habitação surgiu quando a DMO foi contatada por um incorporador para "tocar", em Jundiaí, interior paulista, um extenso programa em alvenaria estrutural. O projeto, já pronto e aprovado, constava de 15 blocos de quatro pavimentos, com um total de 640 unidades. Como a experiência era nova, a empresa recebeu, de início, o suporte técnico da SVS Engenharia, cujo titular, o engenheiro calculista Sérgio Vieira da Silva, já havia acompanhado inúmeros projetos executados com esta técnica.
Atualmente, o respeitável currículo da jovem empresa já conta com um total de 135 mil m2 de área construída no estado de São Paulo, 78.400 m2 realizados em blocos de concreto estrutural. Além do Residencial Alpha, em Jundiaí (total de 27 mil m2), a DMO realizou obras com alvenaria estrutural nos municípios de Louveira (6 mil m2), Indaiatuba (21 mil m2), e também em São Paulo (24.800 m2), na execução de dois condomínios como sub-contratada da Gafisa (Jardim das Flores, em Itaquera), e da Método, nas obras do Hotel Hyat, no Brooklin, neste caso, tanto com alvenaria convencional (área de convenções) quanto com estrutural (toda a parte em volta do térreo, subsolos, escadas e poços dos elevadores.
"Pela economia e qualidade proporcionadas, o sistema construtivo é ideal para a construção de moradias de baixa renda. Isso não significa, no entanto, que ele não possa ser utilizado em qualquer outro tipo de obra com muito sucesso. Dependendo do uso que se queira dar à construção, o sistema pode receber até um acabamento de altíssimo padrão", afirma Alexandre Oliveira.
ECONOMIA NAS FUNDAÇÕES
Em sua visão, a economia que a alvenaria estrutural propicia começa na fundação, em que não é exigida muita profundidade, uma vez que a distribuição de carga não é concentrada em determinados pontos, como ocorre nos sistemas convencionais. E por não ter pilares e vigas, a construção resulta em paredes inteiramente lisas, que garantem espaços maiores e mais agradáveis. A DMO conseguiu, inclusive, reduzir o espaço dos shafts de hidráulica nos boxes dos banheiros, dando-lhes a mesma espessura da parede, o que resulta em maior área para esses locais. O sistema também elimina o quebra-quebra para embutimento das instalações, uma vez que os blocos já vêm com a abertura para as caixinhas de eletricidade.
Com relação às paredes, como elas são todas estruturais, requerem um meticuloso controle da construtora. Outro ponto que Oliveira chama a atenção, é que, como qualquer outro sistema construtivo, o surgimento de micro-fissuras é sempre possível. Isso, no entanto, não significa a existência de um problema maior. "O bloco apresenta patologias que não podem ser eliminadas totalmente pelo cálculo estrutural, por mais exato que seja.
Ele explica que, como o bloco é uma estrutura monolítica e trabalha sob carga, as micro-fissuras podem surgir quando há algum movimento, o que pode ocorrer também com a estrutura convencional. Em um momento, o edifício está todo ocupado; horas depois, estará mais vazio, e assim o terreno se movimenta. Abaixo do edifício, há o lençol freático, que pode estar cheio ou vazio, além da caixa d´água, no topo, que varia de volume continuamente. "Então, não se consegue resolver 100% as pequenas patologias, apenas se elimina a maioria delas", acrescenta.
PROJETO DE ARQUITETURA
O empresário salienta que o projeto de arquitetura merece cuidado especial, e deve ser feito específicamente para este sistema construtivo. Ele explica que a adaptação do projeto gera um custo muito alto e quase inviabiliza a obra. Oliveira chama a atenção também, para a importância do detalhamento do projeto, "pois quanto mais tempo se gasta nessa primeira fase, mais rápida será a execução". A DMO trabalha sempre com a mesma equipe de projetistas, que conhece as dimensões dos blocos e sabe como distribuí-los na obra, de maneira a evitar cortes e desperdícios. "O projeto chega à obra com todos os detalhes especificados, de maneira que, ao abrir a planta, o operário sabe exatamente quais os tipos de blocos que irá utilizar, onde ficam os pontos de hidráulica, de eletricidade etc", afirma.
A DMO mantém uma parceria com a Rockemback, para fornecimento das peças pré-fabricadas de concreto, que tornam a obra ainda mais industrializada. São escadas, elementos decorativos, requadros de caixilhos, caixas d´ água elevadas em anéis, caixas de passagem para hidráulica e elétrica (enterradas) e blocos intertravados para pavimentação dos condomínios. Na execução dos pavimentos, a empresa utiliza lajes moldadas in loco, em fôrmas de PVC, que são mais leves e dão um acabamento perfeito.
A ISO 9001 determina que as construtoras acompanhem, durante cinco anos, o comportamento do prédio pós-ocupação. Ao tomar posse do imóvel, cada morador recebe dois manuais, o do proprietário e o das áreas comuns. Os manuais trazem tabelas da garantia com os prazos para cada item, que cobrem todo o sistema construtivo, a partir do ato da entrega até o quinto ano, quando termina a garantia da estrutura. A DMO mantém o controle contínuo dos custos com manutenção das suas obras. Depois de cinco anos, os gastos com a manutenção das estruturas nas obras de alvenaria estrutural não passam de 0,27% do custo total da obra, contra 2,5%, no caso da estrutura convencional de concreto, de acordo com dados da própria empresa.
Em Indaiatuba, um projeto modelar
Entre os trabalhos mais significativos realizados pela empresa, Oliveira salienta o dos dois condomínios residenciais Cocais I e II, implantados em Indaiatuba-SP. São 20 edifícios com 320 apartamentos de 41 m2 cada, totalizando uma área construída de 16.500 m2.
O sucesso do empreendimento fez com que a empresa criasse outro projeto idêntico, no mesmo município. O condomínio foi contratado pela Caixa Econômica Federal, com recursos do PAR - Programa de Arrendamento Residencial, e está destinado às famílias com renda entre três e seis salários mínimos. Cada unidade sai a R$ 23.600, com mensalidades em torno de 160 reais. Como se trata de arrendamento, o imóvel é da CEF até que o morador conclua o pagamento, depois de 15 ou 20 anos.
Inicialmente, o que desperta a atenção para esses condomínios é o visual diferenciado, bem superior aos conjuntos construídos para moradia social. Apesar de idênticas, suas fachadas receberam cores e texturas diferentes (massa única com pintura texturizada), quebrando a monotonia da repetição e evitando a aparência massificada, comum nesse tipo de obra.
A cuidadosa implantação — os prédios são posicionados transversalmente em relação à rua — procurou maximizar a iluminação natural e a aeração dos ambientes internos. Além disso, propicia privacidade aos moradores, uma vez que as janelas não se abrem diretamente para as dos vizinhos. As paredes internas receberam revestimento direto de gesso sobre a alvenaria, a exceção das áreas molhadas, revestidas com azulejos. A iluminação zenital nas escadarias é propiciada por uma clarabóia de 1,60 m x 4 m, colocada no alto do hall dos apartamentos. A iluminação natural resulta numa grande economia de energia para o condomínio. As instalações hidráulicas são de PVC rígido para esgoto, água fria e pluvial; e de cobre para o gás.
Os cuidados com a qualidade de vida dos moradores são evidentes também nas áreas comuns dos dois condomínios, que dispõem de quadra de futebol, playground, salão de festas e estacionamentos (com uma vaga por apartamento, embora a exigência da CEF seja de vagas para 70% dos apartamentos). Cada condomínio tem uma central de gás em um prédio separado, o que elimina os botijões nas cozinhas. O conjunto foi entregue com uma grande área gramada e arborizada, com mudas doadas pela prefeitura. O terreno ocupado pelos dois condomínios, de 20 mil m2, tem ao fundo uma área de preservação densamente arborizada, mantida pelo município.
Condomínio Jardim da Flores, em Itaquera, São Paulo: 24.800 m2 de área executados para a Gafisa
Detalhe da estrutura de transição |
Posicionamento das instalações durante a construção da alvenaria
Construção de pilares no piso térreo: estrutura de transição, para suportar torre de alvenaria estrutural.
FICHA TÉCNICAObra: Local: Terreno: Área construída: Prazo de construção: Arquitetura: Produção: Construção: Financiamento: Fornecedores:
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